P65 – Gabi Buarque: cando a música brasileira fai quecer os corazóns galegos

Gabi Buarque

Foto: web da artista.

A nosa convidada desta semana veu directa do Río para axudarnos a combater o frío do interior con ritmos doutras latitudes. Gabi Buarque pasou hai uns meses polo noso país e gostou tanto do acollemento que lle tíñamos preparado que decidiu regresar unha segunda vez. A cantora brasileira viña ben aconsellada, a seguir a estela de artistas que xa pasaron polo noso programa, como Socorro Lira e Fred Martins. Como era de esperar, non desaproveitou o tempo e durante esta breve estadía tivo a oportunidade de coñecer e colaborar con grandes artistas galegos, como Uxía ou Xoán Curiel.

Os nosos locutores Marco e Edilson tiveron o pracer falar con ela nunha nova edición do noso programa, que transcribimos a continuación:

 

Gabi Buarque, muito boa tarde!

Boa tarde, é um prazer estar participando do programa. Um beijo a todos os ouvintes.

 

Obrigadíssimos estamos nós de poder falar consigo, é um verdadeiro prazer!

Obrigada!

 

Estamos em plena ponte musical entre a Galiza e o Brasil. Que horas são agora mesmo?

Aqui são 16:32.

 

Em que lugar está agora mesmo?

Eu estou no Rio de Janeiro, na Tijuca, onde eu moro.

 

Linda cidade!

Sim! Costumava ser mais bonita.

 

E como é que está a climatologia lá?

Tem estado muito quente. Hoje choveu o dia todo e deu uma refrescada, mas nesta época, no verão, fica muito abafado. Me deu até umas saudadezinhas do frio de aí. Bem pouca, mas deu.

 

Pois, aqui está mais frio. Agora vou apresentar-lhe o meu companheiro e colega Edilson, que lhe vai perguntar umas coisinhas.

Está ótimo!
 

Nascida na cidade do Rio de Janeiro, a Gabi Buarque é cantora, compositora e instrumentista. Canta profissionalmente desde os 17 anos e no ano passado realizou uma turnê pela Europa, visitando a Galiza.

Diga-nos, em que lugares da Galiza tem estado?

Estive em Santiago de Compostela e em Ourense, em Vilar de Santos. Em Santiago passei pela Casa das Crechas e em Vilar de Santos pela Arca da Noe.

 

Como é que correu?

Correu muito bem. Estive durante o verão, nos dois casos e de novo no final de novembro. O clima foi bem diferente, mas bom porque consegui perceber a diferença de uma época para a outra. Durante o verão, as pessoas não costumam frequentar muito salas fechadas, foi um público menor. Já em novembro, tinha uma lareira acesa, a primeira lareira que eu vi, e toquei o tempo todo com ela do lado. Foram muito acolhedores na Arca da Noe. A recepção do público foi muito boa, assim como em Portugal. Fiquei muito feliz com o resultado e por isso é que voltei mais uma vez.

 

Depois dessa primeira viagem pela Europa, ainda voltou a Portugal. Agora queria saber quais são os seus vínculos com os artistas galegos e portugueses.

Recebi a ajuda de alguns amigos do Brasil, que me indicaram pessoas na Galiza. Fiquei na casa de amigos de amigos, que hoje são eles próprios amigos: o Daniel Asorey, que é um escritor premiado, o Jackson e também tive contato com o multi-instrumentista Sérgio Tannus, que toca com a Uxía. Foi uma alegria dividir o palco com a Uxía, que teve uma generosidade incrível e cantou uma música minha, e com o Xoán Curiel, que se tornou um amigo.

Quanto a Portugal, eu já tinha conhecimento de que a gente tinha família, mas nunca a tinha conhecido. Foi uma oportunidade para conhecer a minha família materna e, além disso, fiz vários amigos e revi outros. Para além de uma experiência profissional, foi uma experiência pessoal muito importante.

 

Dizíamos na cabeceira do programa que a Gabi é cantora, compositora e instrumentista. Qual é a sua atividade preferida?

É difícil responder. Desde que comecei a gostar de música, sempre fui cantora. O começo foi através do canto, então acho que é o principal. Os instrumentos vieram depois, numa forma de me acompanhar enquanto cantora. Depois, profissionalmente, comecei a compor através do violão e, mais tarde, através do cavaquinho; aí foi que comecei a tocar em shows. Contudo, a cantora e a compositora falam mais alto.

 

O desenho industrial desapareceu da sua vida?

[Risos] Eu me formei mas nunca trabalhei com desenho industrial. Trabalho na minha carreira, porque faço a gravação dos meus CD, a programação dos sites… então o desenho industrial não saiu da minha vida. Eu agreguei tudo quanto aprendi na faculdade. O meu pai achava que devia terminar a faculdade, mas eu não queria; queria entrar na Faculdade de Música. Afinal não fiz a Faculdade de Música, fiz a Escola Técnica, e desde então dou aulas e trabalho só com música.

 

Agora explique-nos como foi a acolhida dos seus discos, o Deixo-me acontecer e o Fiandeira.

Foi muito boa. Na verdade, a minha única experiência no estrangeiro antes da Europa foi uma viagem ao Japão em 2016, portanto já tinha tido uma experiência boa em relação aos CDs. Quando a gente vem para a Europa fica receosa pensando se vai dar certo, mas deu super certo; tanto, que retornei no mesmo ano. Além da música dos dois CD, trago canções inéditas que vão estar no próximo e poemas. Gosto muito de integrar várias linguagens; se pudesse levantava e dançava, mas tenho de sentar e tocar o violão. Gosto muito dessa integração.

Em relação aos CDs, são bem distintos, mas todos autorais. As pessoas vinham falar comigo, acho que gostaram muito. Tive essa felicidade de poder viajar levando a minha música.

 

Agora mesmo está centrada nos concertos ou está a preparar outros projetos?

Estou preparando outros projetos. Fiquei praticamente a metade do ano viajando, então agora estou trabalhando em outros projetos com mais calma. Talvez no ano que vem possa publicar um terceiro CD. Estou pensando também em fazer a mesma turnê pelo Brasil, durante o segundo semestre.

 

Tem estado alguma vez no meu país, em Cabo Verde?

Infelizmente ainda não, mas gostaria muito de o conhecer. Gosto muito da música de Cabo Verde. Tenho um pouco de contato através da Mayra Andrade e precisamente o ritmo me encanta.

 

Ainda tenho mais uma intriga: queria que nos contasse o que é o bloco Mulheres de Chico.

Fiz parte do bloco Mulheres de Chico durante três anos. É um bloco de carnaval formado por umas trinta mulheres tocando percussão e cantando músicas do Chico Buarque. Não é apenas percussão, tem umas três pessoas que fazem a parte harmônica e quatro cantores. É um senhor bloco. Durante o ano se apresentam em shows, em menor quantidade. São 16 no palco que correm o Brasil tocando durante o ano todo, mas no carnaval se juntam umas 30. É muito animado, todos os arranjos são para pular carnaval. Agora fazem versões mais lentas também: tem Geni e o Zepelim, tem João e Maria, Morena dos Olhos d’Águamas as mais conhecidas e animadas também entram. Noite dos Mascarados, Malandrosão muitas músicas.

Para mim foi ótimo, tive uma experiência mais profunda da obra do Chico, debrucei na obra dele. Tem uma coisa muito legal do carnaval, que é a possibilidade de se fantasiar. Eu gosto do carnaval por isso, por poder vestir uma fantasia e ir para a rua. No palco brincava muito com isso e aprendi muito em relação a posturas cênicas e adereços. Foi muito legal.

 

Antes de terminar, pedimos a todas as pessoas que passam pelo programa que nos recomendem meia dúzia de sugestões musicais dos países que falam a nossa língua. Pode ser do Brasil, de Cabo Verde, de Portugal, da Galiza…

Vou dar uma lista muito eclética porque gosto de muita coisa. Para começar, queria recomendar Socorro Lira, uma paraibana que já viajou e que tem um trabalho singelo, mas carregado de cultura brasileira.

 

De facto, a gente já falou com ela. Já lhe fizemos uma entrevista.

Outra pessoa de quem gosto muito é o Fred Martins, cantor e compositor. Está morando agora em Portugal, em Lisboa. O CD novo dele, Para Além do Muro do Meu Quintal é muito lindo. Toda a música dele está carregada de muita emoção, de muito sentimento. Volta e meia ouço e me arrepio.

Mudando um pouco, tenho ouvido muito  e recomendo a Letrux, que é uma cantora que está a fazer muito sucesso com um CD intitulado Em Noite de Climão e que não tem nada a ver com o meu trabalho. Tem também a Luedji Luna, que também é compositora e está com um CD novo que se chama Um Corpo no Mundo. Este disco inclui uma música que eu canto num dos meus shows e que fala sobre refugiados, Terra Estrangeira.

 

Diga-nos agora algum de Cabo Verde, de Portugal, da Galiza…

A Uxía, com certeza. Passei a ouvi-la muito depois desse contato e acho que ela também carrega na voz muito da história e da cultura galega. As canções que grava têm sempre esse viés. Através dela conheci também o trabalho do Narf, que infelizmente não está entre nós e de quem eu gostei muito.

Acabei trocando muitos CDs durante a turnê e o Xoán Curiel foi um que cantou comigo algumas das minhas canções. Gostei muito do trabalho dele, particularmente do Ecuacións. Durante a digressão acompanhou-me o João Gentil, um acordeonista excepcional que viaja muito por Galiza, Portugal, Argentina…

 

Foi um grandíssimo prazer tela connosco. Esperamos que os seus projetos tenham um grandíssimo sucesso e ser partícipes de tudo.

Obrigada! Também desejo muito sucesso para vocês nesse projeto e que alcance cada vez mais ouvintes. É importante espalhar a cultura, não só galega e portuguesa, mas do mundo. Acredito que deixo algumas sementes e esta entrevista é fruto disso. Fico feliz!

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