Sonia Shirsat, muito boa tarde! É um grandíssimo prazer poder conversar consigo.
Obrigada, igualmente.
Vou-lhe apresentar o meu companheiro Edilson.
[Edilson]. Sonia, boa tarde.
Olá!
Já sabemos que aí é de noite. Diga-nos, que horas são aí exatamente?
Aqui faltam 10 minutos para meia noite.
Agradecemos especialmente que tenha atendido o nosso telefonema hoje que está a trabalhar. Onde irá atuar esta noite?
Hoje atuei na capital de Goa, em Pangim.
A Sonia chegou ao mundo do fado de forma quase casual. Como foi a sua tomada de contacto com a música na nossa língua?
Em casa da minha mãe, a família falava português; a mamã e a avó gostavam muito do fado. A mamã cantava em casa e eu ouvia em casa e adorava, mas tentei cantar em português só com a idade de 23 anos.
Continua no mundo da docência ou a música ocupa totalmente toda a sua vida?
Principalmente agora é só a música. A maioria do meu trabalho é só fado, mas além do fado canto outras coisas. Deixei de ensinar no colégio, mas qualquer dia volto.
Para além de cantar em português, também canta em outras línguas. Quais são?
Já cantei em 14 línguas, mas falo só 6: inglês, português, francês, hindi, concani de Goa e marati, entre outras línguas da Índia.
O que apareceu antes na sua vida? O fado na nossa língua ou a música em concani.
É claro que foi a música em concani, porque é a língua da terra. Cantava em cocani, em inglês e na língua nacional hindi também. Também já cantei em francês antes de cantar em português.
A Sonia recebeu em 2016 um prestigioso prémio: o Yuva Puraskar. Diga-nos, o que é esse prémio?
Esse foi um prémio nacional, dado pelo Estado. Yuva quer dizer “jovens”, portanto é a categoria correspondente aos cantores com menos de 40 anos. Concedem este prémio em várias categorias: dança, teatro, música tradicional e folclore… Eu ganhei o prémio nesta categoria, dado que o fado é música tradicional e música folque. Para mim foi muito importante o facto de ter recebido um prémio nacional mesmo sem se tratar de uma língua nem um estilo espalhados pela Índia inteira, pois cantamos fados e falamos português em Goa, que é um estado pequenino do país.
Além deste prémio, também ganhou outro à melhor cantora pela Academia de Tiatr de Goa. Explique-nos o que é o Tiatr.
Tiatr é teatro. Nós em Goa temos um teatro em língua concani, que faz parte da cultura portuguesa. É muito parecido com o teatro de revista, um teatro que a gente escreve que trata de temas correntes, de coisas que estão a acontecer na política do mundo inteiro. Este teatro inclui cantigas no meio e nestes intervalos é que eu cantei e na Academia de Teatro de Goa deram-me o prémio na categoria “Melhor cantora”. Ganhei este prémio dois ou três anos já.
A sua primeira participação num disco na nossa língua foi o álbum Lisgoa de António Chaínho. Como foi trabalhar com o mestre português?
Foi um prazer, o mestre António Chaínho é uma joia. Conheci o mestre cá em Goa quando veio ensinar a tocar a guitarra portuguesa. Naquela altura eu não falava português, foi no ano 2004 ou 2005. Cantei um fado, gostou muito e desde então trabalhei muito com ele em Lisboa e cá em Goa. Quando o mestre pensou em fazer este projeto, Lisgoa, junção de Lisboa e de Goa, pediu-me para cantar umas coisas e foi um grande prazer.
Em 2010 publicou o primeiro álbum a solo, Saudades de Fado. Como foi o acolhimento?
Saudados de Fado foi um álbum que gravei em Lisboa, com guitarristas de lá. Foi o primeiro álbum do estado lançado em Goa e logo foi esgotado. A editora já vendeu tudo e acabou, tínhamos de fazer mais CDs para a venda. Em Goa as pessoas que falam português gostam de comprar, de dar como presente de Natal, e foi muito bem sucedido,
A Sonia já quase atuou em todo o mundo: Portugal, Luxemburgo, França, Kuwait, Reino Unido… Quando é que a vamos poder ver de novo em Europa?
Para este ano ainda não tenho nada marcado em Europa, são mais concertos na Índia. Espero que possa voltar a Lisboa, à Alfama e a outros países da Europa para cantar o fado. Ainda não marquei nada.
Como foi o concerto desta noite?
Foi ótimo. Foi um grupo de pessoas de Nova Delhi, da capital da Índia, que queria conhecer o fado. São pessoas que não têm ligação com Goa nem com o mundo português de cá, mas já viajaram e conheceram Lisboa. Gostaram do fado e gostaram do facto de nós termos fado cá em Goa.
Para além do fado, que outros tipos de músicas tocou?
Hoje foi só fado.
Qual foi o repertório?
Foi uma mistura de fados antigos, fados da Amália, e de fadistas novas, como Raquel Tavares, Katia Guerreiro, Carminho… Além diso também cantei dois fados originais meus que amigos de Lisboa escreveram para mim.
Cantaste numa língua ou em várias?
Tudo em português.
A todas as pessoas que passam pelo nosso programa, pedimos sugestões musicais na nossa língua. Quais são as suas preferências?
Para mim é sempre fado.
Sonia, foi um verdadeiro prazer poder conversar consigo. Muito obrigado, muita sorte. Deixamo-la com a sua música.
Obrigada, foi um grande prazer!