De tempos en tempos, xorden no mundo da música grandes sagas familiares en que un mesmo apelido, ligado a nomes distintos, pasa a ser sinónimo de virtuosismo e fecundidade creativa. Nacida e crecida nun ambiente cultural envexable, a caboverdiana Sara Alhinho está a preparar o seu segundo traballo, Ton di Petu, totalmente financiado polos numerosos fans da artista. Mentres esperamos por este novo disco, desexosos de ouvir a súa música e deixarnos sorprender polo talento da cantora, non resistimos a tentación de entrar en contacto con ela para sabermos máis sobre as orixes do mosaico de ritmos que nos ofrece en cada nova canción.
Sara Alhinho, muito boa tarde!
Boa tarde.
Estamos muito felizes de poder conversar consigo no programa.
Obrigada, igualmente, estou muito contente de poder participar.
Antes de mais nada, quero apresentar-lhe o meu companheiro Edilson, caboverdiano de Ribeira da Barca, na ilha de Santiago.
Boa tarde! [Edilson]
Olá, Edilson!
Como estás?
Bem, tudo dretu?
Tudo! Sara, apresente-nos a família. Assim, a nossa audiência acaba por saber por que razão vive entre várias culturas desde a infância.
Sou caboverdiana. A minha mãe, Teté Alhinho, é caboverdiana; eu nasci em Portugal, mas vivi em Cabo Verde sempre desde os seis anos de idade, e o meu pai é mexicano. Cresci exposta a diferentes culturas e desde pequena sempre escutei música mexicana, caboverdiana, portuguesa e de muitas partes do mundo. Cabo Verde são umas pequenas ilhas, mas com muitas influências, sempre abertas ao mundo e a receber músicas novas. Essa é a minha família e o meio onde cresci.
Conte-nos quem era a Sara Sarita e o que foi dela.
A Sara Sarita era uma rapariga de oito anos que cantou um tema intitulado “Sara Sarita” no CD Menino das Ilhas, o qual derivou num videoclip que foi feito na altura. Ficou conhecido no meio das crianças e até hoje em dia às vezes veem-me na rua e ainda sou a Sara Sarita. Hoje essa menina ainda existe, é uma memória viva entre as pessoas da minha geração, inclusive entre as crianças que nascem, através dos pais ou dos avós que ouviram e se lembram desse tema. A Sara Sarita é uma figura que ainda está presente e espero que esteja presente sempre na memória das pessoas, dado que foi um tema emblemático que marcou a infância de muitas crianças.
A sua primeira experiência de gravação foi Menino das Ilhas. Qual é a história daquele álbum?
Menino das Ilhas é um CD que foi produzido pela minha mãe e Paulinho Vieira, onde eu cantei três temas. Trata-se de um disco para crianças que hoje em dia é um clássico na música infantil de Cabo Verde. Se não estou em erro, foi um dos primeiros CDs de música infantil caboverdiana. Gosto muito deste disco, é muito bonito: a capa foi feita pela Luísa Queirós, uma grande pintora que tristemente já faleceu, e em relação à música conta com composições da minha mãe e de outros artistas.
Fale-nos da etapa dos Mea-Culpa. Que idade tinha?
O Mea-Culpa foi uma banda formada pelos filhos dos membros de Simentera, nomeadamente eu; a Kady; o Henrique; o Diego; a Sory, irmã da Kady, filhas da Terezinha Araújo; o Alberto, filho do Mário Lúcio, e a Danae Estrela. São muitos deles compositores e também artistas. Eu tinha 12 anos na altura e formávamos uma banda de jovens, com composições próprias, que participou de vários eventos e programas de televisão. Era interessante, porque nascemos em famílias de músicos e reproduzimos o que eles faziam: eles tinham um grupo e nós decidimos criar também a nossa banda. Foi uma muito boa etapa porque, mesmo sendo muito novinhos, realizávamos um trabalho muito profissional com letras boas e variadas. A explicação do nome Mea-Culpa tem a ver com que achávamos que a metade da culpa de sermos artistas era nossa, enquanto que a outra metade era dos nossos pais, por incentivarem-nos e por serem os nossos referentes.
O que é o Quintal da Música?
O Quintal da Música foi um espaço cultural que ainda existe, mas que surgiu como um conceito diferente na altura. Foi um espaço aberto pela minha mãe e pelo ex-ministro da cultura Mácio Lúcio. Os dois montaram o espaço com o intuito de criar um lugar onde os artistas pudessem ter uma casa, aceder a instrumentos, tocar e dar-se a conhecer; mas também um lugar onde pudessem realizar-se atividades destinadas a promover a cultura. Eu tive a sorte e muitos dos amigos que se dedicam à música tivemos a sorte de crescer aí, dar-nos a conhecer e ter partilhas com vários músicos de gerações diferentes. Cada dia era dedicado a um estilo diferente: havia um dia para a velha guarda, outro para jovens e crianças, outro para músicos mais consolidados… Nesse contexto, deram-se a conhecer vários artistas. Eu lembro-me do Pantera, que todas as quintas-feiras enchia a sala, não havia mais espaço para receber pessoas. A Mayra de Andrade é outra das artistas se deu a conhecer no Quintal da Música. O espaço também recebeu o Vadú, a Isa Pereira, o Tito Paris, Cheka, Boy Gê Mendes… todos os artistas caboverdianos mais novos, da geração pós-Pantera, passaram por aí e, de facto, tinha sido criado com esse intuito.
Em plena adolescência enveredou para o México. Qual é o balanço daquela etapa.
Tinha 16 anos quando fui para o México. O balanço foi muito positivo: aprendi muito, cresci muito. Fui com o intuito de dedicar-me à música e gravamos um demo e apresentamo-lo a várias editoras, como a Sony Music, a BMG, a Universal e outras independentes. Tive algumas propostas de gravação na época, mas eu não conhecia o mercado e fiquei um bocado assustada. O México é um mercado muito grande, acho que é dos mercados principais dentro da música latino-americana, e ainda que estava inclinada a assinar pela Sony Music, não o fiz tive que voltar para Cabo Verde acabar os estudos. Contudo, foi uma experiência muito boa, cresci muito na altura e conheci muitos músicos e a indústria musical do país.
Outra das suas experiências formativas foi o álbum Gerassons. Como foi a experiência de trabalhar com a própria mãe?
Foi uma experiência muito bonita que hei de carregar sempre comigo. O álbum tem três temas meus e outros três com a minha mãe. Tivemos a oportunidade de fazer uma tourné por salas conceituadas da Europa. A que poder partilhar a tua profissão e a tua paixão com a tua própria mãe é quase uma dádiva e espero poder tornar a repetir esta vivência.
Que aprendeu nesse ano em que viajou pela Europa?
Aprendi a ter muita paciência porque nas turnês andamos muito tempo de carro, são cansativas. Às vezes não é fácil trabalhar com músicos e pessoas diferentes, expostos a situações e públicos distintos. Por outra parte, aprendi também a partilhar o palco com uma banda, dado que foi das primeiras vezes em que estive com mais constância a tocar com uma. Este tipo de circunstância fazem-nos crescer como artistas.
Falemos agora do Mosaico, o seu primeiro álbum. Porque esse título?
O título representa um pouco a minha identidade multicultural. Foram composições que partiram de condições diversas e teve a participação de músicos de diversas partes: italianos, guineenses, mexicanos, caboverdianos, portugueses… o CD em si representa um mosaico pelo facto da cooperação de vários músicos e inclusive viajou por vários sítios como Cabo Verde, México, Portugal ou a Itália. É um mosaico desde a sua construção e representa o que eu sou, a começar pelos temas e a sua composição: há fado morno, batuques e mesmo um tema de estilo mexicano. Pretende igualmente representar o caboverdiano em si: um povo globalizado que reflecte na sua própria música a vontade de integrar várias culturas conservando uma identidade muito própria.
De quem são as letras e a música?
São minhas, tanto a letra quanto a música.
Antes de finalizar, Sara, a todas as pessoas que passam pelo nosso programa pedimos que nos façam meia dúzia de sugestões de artistas do nosso mundo: Galiza, Portugal, Cabo Verde…
Gosto das músicas que sempre ouvi e que marcaram a minha infância. Em Cabo Verde, Simentera, com a minha mãe, que também é uma grande referência para mim; o Pantera; o Ildo Lobo, Bana, Cesária. Temos também a Kady Araújo, o Alberto Koenig e vários artistas mais. Da música brasileira, o Djavan, que foi uma das minhas grandes referências; a Marisa Monte ou o Cartola. Gosto muito de guitarristas brasileiros, como o Toquinho, o Tom Jobim, o Paulo Mosca. No Brasil, Alcione também é uma grande cantora.
Quanto a Portugal, não estou muito conectada ao que se tem feito ultimamente, mas as minhas referências são Madredeus, a Ala dos Namorados, Rio Grande, o Rui Veloso, Da Weasel, General D, Amália Rodrigues.
Em relação à música galega, só conheço a Uxía Senlle, que para mim é quase a Mercedes Sosa da Galiza. Infelizmente, não conheço mais grupos galegos, mas gostaria de conhecer mais.
Sara, foi um grande prazer poder conversar consigo. Desejamos-lhe muita sorte nos seus futuros projetos.
Muito obrigada e sucesso.