Adriana Sanchez, muito boa tarde!
Muito boa tarde, que prazer estar com vocês.
O prazer é nosso, obrigado!
É muito bom levar a nossa música aí para o outro lado através da língua portuguesa. Essa música que vocês tocaram agora pertence ao meu último trabalho, um tributo ao Luiz Gonzaga, e estou muito feliz com ele. Vêm muitas novidades nesse ano.
Pianista, sanfoneira, bailarina, atriz, representante de instrumentos musicais… o que é neste momento Adriana Sanchez.
Adriana Sanchez é isso tudo. Eu gosto de misturar as coisas, de compartilhar a música com artistas de vários lugares do mundo. Neste momento, especificamente, estou viajando por todo o Brasil com esse show tributo ao Luiz Gonzaga, que faz parte de um CD que lancei com vários convidados e de um DVD ao vivo. Estou em tournée com esse show e há ainda uns meses publiquei outro CD em conjunto com os compositores brasileiros Guilherme Rondon e Rafael Altério chamado Todo o interior é igual, com músicas autorais. Neste momento estou um pouco dividida entre esse lançamento, os shows do Salve Lua e, paralelamente, os shows da Barra da Saia.
Nascida em Santo André, no estado de São Paulo, Adriana Sanchez começou na música sendo uma criança; inicialmente com o piano clássico e mais tarde como bailarina. Adriana estudou harmonia, arranjo e orquestração, realizou trabalhos com diversos artistas e, em 1998, formou a banda Barra da Saia. Segundo a própria artista nos diz, “tive vontade de me arriscar, surpreender, fazer alguma coisa diferente, com personalidade; algo que não existisse: uma banda feminina tocando de verdade e com competência nesse universo tão masculino”. A nossa convidada é a primeira sanfoneira a receber patrocínio internacional da Hohner, a conceituada empresa alemã de instrumentos musicais, e também foi atriz no filme Anjo Bom da Bahia — A vida de Irmã Dulce.
Na altura em que já decorreram 20 anos desde a fundação de Barra da Saia podemos dizer que propiciaram uma revolução na música feminina e feminista no Brasil.
Eu montei Barra da Saia para fazer resgate de música caipira, a música regional mais do interior. Realmente é uma música dominada pelos homens, e mais ainda nos instrumentos; tinha poucas mulheres, como ainda tem, tocando a viola ou a sanfona —que é como nós denominamos o acordeão. Quis formar uma banda e fomos pioneiras nesse movimento das mulheres na música caipira. Há já 20 anos que criamos a banda e muitas meninas que vão hoje ao show tocam instrumentos porque viram, se identificaram e se deixaram influenciar. Passamos a mensagem de que é importante uma cantora se acompanhar de um instrumento e aprender a tocar mesmo sem se querer dedicar à música profissional. Aprender a tocar sempre faz bem. Conseguimos, sim, mudar o cenário da música caipira e colocar a mulher em status.
Fale-nos desse relacionamento com a empresa Hohner da Alemanha.
Então, em 2011 a Hohner me mandou um e-mail. Queriam entrar no mercado brasileiro, dado que o Brasil não fabrica e a maioria de acordeões eram importados da Itália. A Hohner queria entrar no Brasil e estavam buscando um artista que pudesse representar a marca como patrocinado. Viram vídeos meus e acharam que eu tinha essa cara da marca e entraram em contacto comigo. Em 2011 assinei um contrato com eles e foi muito legal, porque a minha imagem rodou o mundo todo. Acabei sendo conhecida por outros acordeonistas de lugares aonde a minha música teria demorado mais para chegar e fiquei muito feliz. É uma consagração de um trabalho que venho fazendo desde há muitos anos.
Esse relacionamento continua agora?
Continua, continua. Sou patrocinada da Hohner e da Lanikai, que é a marca de ukeleles deles. Até hoje temos essa parceria e sou muito honrada por isso.
Eu queria que nos explicasse o que é o chamamé.
O chamamé é um estilo de música do Brasil que tocamos na Barra da Saia, que é música mais caipira. O chamamé, na verdade, é originário da Argentina e entrou no nosso país através das fronteiras. É um estilo de canção, como é o fado ou a bossa nova, um tipo de música tocado em compassos de três e que vem sempre com mensagens sobre a terra, a natureza e a conexão com a própria terra através da paisagem.
O que representa o chamamé no seu repertório?
Ele faz parte da minha vida. O meu pai é equatoriano, a minha mãe filha de portugueses. Eu cresci ouvindo sempre a música latina e quando criei a Barra da Saia trouxe muitos chamamés para dentro do repertório. Esse CD que acabei de lançar com o Guilherme Rondon e com o Rafael Altério tem muitos chamamés porque o Guilherme é do pantanal, uma região do Brasil onde essa música é muito forte. Acho que representa um sentir mesmo.
Na cabeceira do programa falamos da sua participação do filme A vida de Irmã Dulce. Conte-nos como foi a experiência.
Na verdade, foi a minha primeira experiência como atriz. Recebi um convite do Padre António Maria, um padre que canta muito conhecido aqui no Brasil. Ele estava a fazer um filme sobre a vida da Irmã Dulce, que é uma figura muito importante aqui no nosso país, falecida há alguns anos. No meio do processo estava à busca de uma atriz para esse papel e um dia ligou para dizer que já tinha escolhido atriz: «Nossa… que bom! Parabéns! Quem é?» , «É você». Eu disse que não era atriz, mas a resposta dele foi: «Agora você é». A Irmã Dulce também tocava muito o acordeão e isso me aproximou muito dela. Acho que o ballet também, dado que a bailaria clássica não deixa de ser uma atriz silenciosa: não tem texto, mas tem que contar uma história através das expressões do corpo. A música também tem muito isso. Aceitei o convite sabendo que era um grande desafio, porque é uma personagem muito forte, mas foi emocionante. Mergulhei bastante nela e o Padre António Maria mesmo se emocionou bastante, porque era amigo pessoal dela. Eu fiquei muito feliz de ter tido a coragem a aceitar de ter podido viver um pouquinho essa pessoa tão importante para nós.
Sendo tão polifacética, queria saber em que está a trabalhar agora.
Estou na fase de divulgação desse novo CD que a gente lançou do trio, com o Rafael Altério e o Guilherme Rondon. Já saiu e está em todas as plataformas digitais, para quem quiser escutar. Chama-se Todo o interior é igual. Estou me preparando para gravar um novo CD de carreira, um disco de músicas inéditas com uma parte do repertório em espanhol, e estamos preparando também o novo lançamento do novo CD da Barra da Saia, que deve sair em breve. É muito projeto, não é? Gosto muito de estar fazendo músicas diferentes com pessoas diferentes.
Em que lugares têm agendadas atuações para esses tempos imediatos?
Não é por falta de convite, mas confesso que tenho muita vontade de fazer uma tournée por Portugal. Afinal, eu tenho um pedaço de Portugal em mim também e quero conhecer as nossas músicas ancestrais. Vamos torcer para que dê certo e seja em breve.
Para quando a sua visita à Galiza?
Estou esperando convite, com as malas prontas. Espero que as pessoas que me estão escutando conheçam o meu trabalho e em breve estejamos juntos.
Bem Adriana, antes de finalizar a entrevista ainda temos outra pergunta mais. Queremos que nos faça meia dúzia de sugestões musicais de Portugal, do Brasil, de Cabo Verde ou mesmo da Galiza.
Tenho ouvido recentemente algumas pessoas que acabam de publicar discos agora, portanto vou mencionar o que estou a escutar:
Pedro Altério, que tem um trabalho lindo e participa inclusive numa faixa do trio. Breno Ruiz, que é um pianista e compositor incrível, que está a apresentar um CD novo e toca em algumas faixas do Salve Lua. Tem uma cantora portuguesa, a Susana Travassos, que participa no CD do trio e que está no Brasil a lançar um trabalho com uma compositora de aqui, a Ana Terra. Temos a Lucina, uma representante incrível da mulher compositora com canções maravilhosas. Finalmente, gosto muito também do grupo 5 a Seco, que está fazendo um trabalho novo que gosto muito. Acho que são dicas legais para quem quer ouvir música brasileira mais nova, mais fresca.
Muito bem, Adriana, por ter conversado connosco. Foi um grandíssimo e um gratíssimo prazer.
Eu que agradeço, deixo aí o meu carinho para todos vocês. Gratidão pelo convite e convido todos para escutarem o meu trabalho. Um brande beijo.