P67 – Lucina apresenta «Canto de Árvore»

No Grandes Vozes sentimos uma atração especial pelos pioneiros. A cada semana passam pelo nosso programa artistas de vanguarda, com novas propostas musicais que vão do tradicional ao revolucionário. No entanto, nem sempre temos a sorte de contar com a participação de uma cantora cujo projeto musical transformador nasceu há já 50 anos e que continua a inovar com cada um de seus lançamentos.

Lucina esteve nesta nova edição do programa para apresentar o seu novo álbum Canto de Árvore. Obviamente, o Marco e a Raquel não desperdiçaram essa oportunidade de conversar com ela sobre a longa carreira musical da artista e ouvir algumas das suas músicas. Temos a certeza de que vão admirar tanto quanto nós essa voz extraordinária, num trabalho verdadeiramente único para o qual conseguiu escolher os melhores parceiros.

 

Lucina, muito boa tarde!

Boa tarde, Marco! Tudo bem? É um prazer enorme estar falando com vocês.
 

Aqui está tudo bem e nós muito contentes por poder conversar consigo.

Tão longe e tão perto, não é?
 

Pois é! Antes de mais nada: parabéns por esses 50 anos nos palcos. É um prazer tê-la conosco.

Eu também estou muito feliz. São muitos anos de carreira, sempre apresentando alguma coisa diferente, alguma coisa nova. É muito estimulante estar sempre se reinventando.
 

Estamos em conversa com Lucina, cantora e compositora com 50 anos de carreira. Com ela falaremos de Canto de Árvore, álbum de composição própria gravado na cidade de São Paulo. Aproveitando esta oportunidade única da entrevista concedida ao Grandes Vozes, lembraremos também algumas etapas da sua carreira, como a participação do Grupo Manifesto ou da dupla Luli e Lucina.

50 anos de carreira. Como era a Lucina que gravou pela primeira vez com o Grupo Manifesto?

Eu era uma garota de dezesseis anos que começava a cantar e que, subitamente, entrou num grupo que ganhou o Festival Internacional da Canção aqui no Rio de Janeiro. De uma hora para a outra, entrei no grupo mais famoso da época. Foi uma experiência muito forte. Passaram-se dois anos, o grupo acabou e cada um foi seguir o seu próprio destino. Foi então quando conheci a Luli, com quem fiz uma dupla e fomos as primeiras mulheres a gravar de forma independente no Brasil.
 

Como é que a dupla funcionou durante 25 anos?

Fomos uma referência do cenário alternativo no Brasil: as primeiras mulheres compositoras cantoras que tocávamos dez tambores, além dos nossos violões, com um trabalho totalmente autoral. Foi tão interessante que gerou inclusive sete álbuns e uma longa-metragem sobre a nossa vida e obra, chamado Yorimatã.
 

Como era a distribuição de responsabilidades nesse par artístico?

Fomos as primeiras independentes no Brasil. Numa época em que o habitual era recorrer à gravadora, optamos por não utilizá-la. Vendíamos os nossos LP praticamente no mão a mão, pelo correio e em shows. Tínhamos uma espécie cooperativa junto com outros músicos e saíamos cada qual com o seu projeto, mas vendendo o trabalho de todos. Existia uma cooperação muito forte entre artistas independentes, como o António Adolfo, A Barca do Sol ou o Danilo Caymmi. Essas eram algumas das pessoas com quem partilhávamos essa forma de distribuir o trabalho.
 

Falemos agora da carreira a solo. Qual foi o primeiro trabalho?

O primeiro trabalho foi o Inteira pra Mim, ainda que todos os meus trabalhos são autorais. Montei uma banda pequena com piano, uma percussão bem boa, baixo e o meu violão. Esse primeiro álbum me rendeu uma indicação ao prémio Sharp na época como revelação de cantora.
 

Deixando de lado Canto de Árvore, de que falaremos a seguir, qual é o seu disco preferido?

Cada disco que fazemos está retratando um desejo de dizer certas coisas, de mostrar determinados sons. Acredito que cada um desses CDs que lancei partiram dessa proposta e fui feliz nele. Sinceramente, não tenho um que seja especialmente querido; gosto de todos eles. Como estou lançando o último, o Canto de Árvore, tenho-me dedicado mais a ele, mas os outros são também queridos. Tenho, por exemplo, o + do que Parece, onde gravei as minhas baterias com a Zélia Duncan; A Música em Mim, que tem a direção de uma grande maestrina brasileira, a Bia Paes Leme; ou o Novos Pontos de Umbanda, que levei a festivais internacionais. No Água dos Matos desci os rios Paraguai e Cuiabá em pleno Pantanal; são músicas que fiz em cima do rio. Cada CD retrata algo diferente.
 

Quais são os conteúdos do Canto de Árvore?

O Canto de Árvore é um CD de silêncios. É o menos romântico e mais existencial dos meus discos. Tem uma sonoridade muito interessante: o violoncelo fazendo frases junto com o acordeão. Tem instrumentos diferenciados, como os steel drums da Jamaica, conversando com percussões turcas e outro tipo de tambor. Os meus tambores e o violão fazem a base de tudo, com baixo, cavaquinho e violão de jazz somando. Participam os músicos Peri Pane, Otávio Ortega, Marcelo Dworecki e Decio Gioielli.
 

As letras são da sua autoria?

Todas as músicas são minhas, como se eu fosse o tronco dessa árvore, mas os poetas vêm de vários cantos do Brasil. São bem diversos, são dez parceiros diferentes.
 

Para termos uma panorâmica das suas músicas, está disponível no mercado algum disco compilatório?

Estão em formato digital, em praticamente todas as plataformas. Spotify, Deezer, iTunes, Google Play. Canto de Árvore também está lá disponível.
 

A gente já sabe então onde pode ouvir as suas músicas, o que é muito recomendável.

Canto de Árvore existe em CD físico. Os outros discos, alguns estão disponíveis nestas plataformas e outros não. O Inteira pra Mim está, já o Água dos Matos  e A Música em Mim só é possível ouvi-lo em físico. Vou começar e disponibilizar todos esses discos na rede, mas leva um pouquinho de tempo.
 

Lucina, estamos a terminar. Pedimos a todas as pessoas que passam pelo nosso programa meia dúzia de sugestões musicais, feitas nos países com raiz galega.

A primeira sugestão é um cara chamado Breno Ruiz. É um cantor compositor que tem um dos trabalhos mais interessantes que vi nos últimos tempos. Outro é o Túlio Borges, também compositor e cantor. O Túlio tem uma voz muito especial e a maneira como ele mistura a instrumentação é bastante interessante e bem brasileira.  Também posso falar de Oneide Bastos, uma senhora do Macapá, lá em cima do Brasil, bem no norte. Traz umas músicas da região muito bonitas e melodiosas, com um ritmo especialíssimo, o marabaixo. Recomendo muito igualmente a Patrícia Bastos, que ganhou muitos prêmios nos últimos tempos. É filha da Oneide e está ganhando o mundo com uma voz deslumbrante e cantando as coisas da terra.

Vou falar também da Zélia Duncan: todo o mundo a conhece, mas é uma parceira importante para mim. Tenho uma obra grande com ela e não me canso de ver a trajetória artística onde ela vai arriscando e tentando novos lugares, novas maneiras de cantar, novos repertórios. Acho que sempre vai valer a pena a gente partir para escutar a Zélia Duncan.

A sexta pessoa é a Adriana Sanchez, que toca o acordeão e tem uma banda grande. Acabou de gravar um CD em homenagem a Luiz Gonzaga, fazendo uma releitura extremamente atual e bem moderna de toda a obra dele.
 

Lucina, muito obrigado por ter conversado conosco!

Eu que agradeço a você, Marco, à Raquel e a toda a equipe. É maravilhoso que façam esse trabalho relativo à língua portuguesa. Fico muito feliz e honrada de estar aqui participando.
 

Muitos beijinhos, Lucina. Obrigada por falar conosco!

Um abraço muito grande para todo o mundo que está escutando.

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